sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

'O Estado é mais cego do que eu', diz fotógrafo.

O fotógrafo Sérgio Silva, 32, perdeu o olho esquerdo ao ser alvejado por um policial militar enquanto cobria os protestos contra o aumento da tarifa em São Paulo, quase seis meses atrás, no dia 13 de junho. Sem conseguir trabalhar, contou com a ajuda de familiares e amigos para pagar as contas –-só o atendimento no hospital custou R$ 3.200. Questionado sobre uma possível ajuda do governo, Silva é categórico: "Nenhuma".

REENCONTRO COM A POLÍCIA

Junior Lago/UOL
"No dia 20 de novembro, participei da marcha do Dia da Consciência Negra. Foi parte do meu processo de recuperação psicológica, fui lá com a câmera mas sem pauta, apenas para tentar recuperar minha autoestima na rua, em situações de aglomeração de pessoas.
Na avenida Paulista tinha um grafite com a frase 'Por que o senhor atirou em mim' [dita pelo jovem Douglas Rodrigues, morto por um PM em outubro]. Fiquei olhando a pintura e pensando nas palavras. Enquanto isso um carro da PM veio pela avenida Paulista.
Os policiais estavam com a cabeça e o cotovelo para fora do carro. Eu estava sozinho nesse momento, tive medo. Queria fotografar, mas me senti constrangido, hesitei, com receio de me envolver em alguma situação parecida com a que vivi. Mas no final eu tive coragem de fazer a foto"
"Desde o 13 de junho o Estado se manteve mudo. Talvez até cego, mais do que eu, por não ter me enxergado. Durante os dois dias que passei internado eles não ligaram nem para a assessoria do hospital para saber do meu estado de saúde", afirmou.
Segundo ele, "se depender do governo e dessa politicagem que há na polícia, não vão entregar nem um lenço pra minha mãe chorar, para enxugar as lágrimas. E isso é algo que ela tem feito bastante desde que fui baleado".
Procurados, o Governo do Estado e a Polícia Militar não quiseram comentar as afirmações. 

Impacto psicológico

Além da perda do olho, o incidente deixou cicatrizes psicológicas.  "Até hoje eu ainda me sinto uma pessoa insegura para andar sozinho na rua. Quando ouço algum barulho, algo que lembre explosão, eu fico completamente abalado", afirmou.
Silva não foi o único atingido pelo incidente. Sua filha mais nova, de sete anos, passa por tratamento psicológico para superar o trauma. "Assim que tive alta do hospital e fui para casa, eu me assustava sem motivo. Estava sentado no sofá e fazia um gesto brusco, um espasmo acompanhado de uma espécie de grito. Minha filha começou a ter o mesmo tipo de sintoma", diz.
Segundo ele, a psicóloga trabalha com a hipótese de que a menina esteja sofrendo com sequelas pelo trauma sofrido pelo pai.  "Mesmo não falando que está com medo, ela tem esse comportamento igual ao meu", disse o fotógrafo.
Fonte: uol.com.br

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